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Qualquer semelhança não é mera coincidência...

(Salvo as devidas diferenças de gênero, claro!)

Ganhar... e perder. Eis a questão!

Chico e seus pais adoram jogar juntos - dominó, jogo da memória, quebra-cabeça, bola... 

A questão tem sido que...

Quando Chico ganha: Eu ganhe-ei, eu ganhe-ei, tu perde-eu, tu perde-eu...

Quando Chico perde: Mas mãe... Mas pai... É que... (buááááááá).

Para os pais de Chico esse é um comportamento típico de uma criança de três anos, nada que exija grande alarde, afinal de contas a criança tem que exercitar sua auto-afirmação, isso é fundamental para o seu desenvolvimento psicosocial. Mas, nada como uma boa dose de conversa para ajudar a clarear as idéias do pequeno.

Pais de Chico: Veja filho, num jogo ou numa brincadeira, às vezes a gente ganha e às vezes a gente perde... Faz parte do jogo, sabe filho...

Ou então: Ow, filhote, não fique assim não. É assim mesmo... tá lembrado do que papai e mamãe disseram a Chico? Às vezes a gente ganha e às vezes a gente perde.

Outra vez mais: Filho, você tem que aprender a ganhar e a perder... Assim fica difícil brincar com Chico, Chico só quer ganhar! Não pode ser assim, né filhão! Tem que aprender a ganhar e a perder também...

E assim segue o blá, blá, blá durante algumas semanas, entre jogos e brincadeiras.

Parece que Chico tem aprendido bem a lição, se bem é certo que ainda quase sempre a utiliza a seu favor e quando lhe convém.

Chico adora brincar na casa de um vizinho, que já é um pouco maior do que ele, o Thomas, e que já quase completa 6 anos. Thomas tem um vídeo-game e quase sempre eles jogam juntos. Pois bem, não é difícil imaginar quem sempre ganha e perde nessa história. Umazinha sequer, Chico nunca ganha. Só faz perder.

Dia desses Chico chega invocado em casa e diz a sua mãe:

Chico: Mãe, eu já ensinei a lição a Thomas, mas ele não quer aprender...

Mãe de Chico: Como assim filho?

Chico com os olhos marejados: É que eu disse a ele que ele tem que aprender a ganhar e perder... Mas ele só quer ganhar, mãe! Thomas num sabe perder, mãe!

Mãe de Chico pensa: Eita danosse, e agora?!

Aí vem mais meia hora de conversa pra explicar a Chico que nesse caso é diferente, porque Chico ainda está aprendendo a jogar vídeo-game, e que Thomas já sabe jogar melhor do que ele, motivo pelo qual ele sempre ganha... blá, blá, blá.

 Mas o pequeno é insistente...

Outro dia, Thomas veio chamar Chico para jogar vídeo-game lá em sua casa. Não teve jeito, antes mesmo de subir as escadas, Chico começou a repetir incansavelmente ao amigo: Thomas, tu sabe que a gente tem que saber ganhar e perder, né Thomas? Tem que ganhar e perder, hein Thomas?! Thomas, tem que saber ganhar e perder, tá? Thomas...

Mãe de Chico assiste à cena, sai rindo sem que o filho a veja e pensa: Quero ver se o neguinho agora não aprende a lição...

Olha o nariz crescendo, papai!!!

Dia desses Chico e seus pais estavam na fila do supermercado. Chico dentro do carrinho, começa a remexer tudo até que o olhar curioso bate de frente com uma caixinha cheia daqueles "adesivos protetores" que se colocam em pés de cadeiras, móveis, para proteger o piso contra arranhões.

Chico: O que é isso, pai???

Pai de Chico: Adesivos...

Chico: Adesivos? E pra que servem esses adesivos???

Pai de Chico faz aquela cara de quem tá com uma preguiiiiiiiça de explicar: Hummmm... serve para... colocar nos dedos!

Chico: Colocar nos dedos?

Pai de Chico: Humrum... pra colocar nos dedos.

Chico olha pros tais adesivos: Ah tá!

Um par de dias depois, Chico encontra a dita caixinha de adesivos aberta em cima da mesa da sala. Quando de repente...

Pai de Chico: Mais é muita trela, mesmo, né Chico! Pegando as coisas de papai e ainda mais fazendo trela... Tá certo isso tá?

E continua: Venha cá "mainha" ver a trela de seu filho!

A mãe de Chico, que estava lá por dentro, aparece e se depara com cena: Chico trazia na ponta de cada um de seus dedos os tais adesivos bem grudadinhos.

Pai de Chico: Tá vendo "mainha", Chico pegou os adesivos de painho sem avisar para fazer trela... Tá certo isso?

Chico com cara de quem não entendeu nada: Mas pai, tu não dissesse que isso servia para colocar nos dedos, não foi? Tu não dissesse, não foi?

Pai de Chico olha pra mãe de Chico, que por sua vez faz aquela cara de "Agora te vira, chuchu...".

Moral da estória: Em caso de não desejar sentir-se encurralado pelo seu filho, recomenda-se SEMPRE falar-lhe a verdade, ainda que para isso seja necessário deixar a preguiça de lado e fazer uso de toda sua capacidade criativo-explicativa.